22/09/2010

Antonio Machado - Poeta Sevilhano.

Era un niño que soñaba
un caballo de cartón.
Abrió los ojos el niño
y el caballito no vio.
Con un caballito blanco
el niño volvió a soñar;
y por la crin lo cogía...
¡ Ahora no te escaparás!
Apenas lo hubo cogido,
el niño se despertó.
Tenia el puño cerrado.
¡ El caballito voló!
Quedóse el niño muy serio
pensando que no es verdad
un caballito soñado.
Y ya no volvió a soñar.
Pero el niño se hizo mozo
y el mozo tuvo un amor,
y a su amada le decía:
¿ Tú eres de verdad o no?
Cuando el mozo se hizo viejo
pensaba: todo es soñar,
el caballito soñado
y el caballo de verdad.
Y cuando vino la muerte,
el viejo a su corazón
preguntaba: ¿ Tú eres sueño?
¡ Quién sabe si despertó!
Era um menino a sonhar
com um cavalo de cartão.
O menino abriu os olhos
e não vui o cavalinho.
Com um cavalinho branco
ele voltou a sonhar;
pelas crinas o prendia...
Assim não te escaparás!
Mal o conseguiu prender,
logo o menino acordou.
Tinha a sua mão fechada.
O cavalinho voou!
O menino ficou sério,
pensando não ser verdade
um cavalinho sonhado.
Já não voltou a sonhar.
E o menino fez-se moço
e o moço teve um amor,
e dizia à sua amada:
Tu és de verdade ou não?
Quando o moço se fez velho
pensava: Tudo é sonhar,
o cavalinho sonhado
e o cavalo de verdade.
E quando chegou a morte,
o velho ao seu coração
perguntava: Tu és sonho?
Quem saberá se acordou!





crédito da tradução: o canto da filosofia.




21/09/2010

Falsa Desinibição.

 

Há muitas formas do ser humano se comportar e estas promovem tantas outras formas que são respostas às primeiras, que talvez faltassem palavras para identificá-las uma a uma. Algumas são sentidas de forma neutra, outras causam irritação, paixão e sentimentos dos mais diversos tipos. Há, entretanto, um tipo de postura que é certamente enigmática. Eu chamo essa postura de falsa desinibição.

Podemos aparentar algo verdadeiro: sinto tristeza e além de sentí-la aparento estar triste. É algo comum para todos, pois não satisfeito com o sentimento que tem julga importante expressár esse sentimento.

Podemos aparentar algo falso: sinto tristeza e apesar de sentí-la, aparento com um enorme sorriso no rosto, que estou alegre. Isso pode ser sincero, pois muitas vezes não queremos que nosso estado de animo afete os amigos.

A falsa desinibição é diferente das demais formas de aparentar algo falso.

Contudo, por que escrevo sobre a falsa desinibição? Me parece que esta forma de aparecer contém um problema significativo. A falsa desinibição, quando capturada por uma pessoa nas atitudes de um indivíduo aparece como uma forma boba de ser sujeito.

Por que demonstrar estar desinibido? Se a intenção é não preocupar um grupo, até entendo as razões, mas quando as razões são demonstrar segurança de si?

A segurança de si, inúmeras vezes é acompanhada por um grau de certeza sobre banalidades que tranformam o homem no poço mais fertil de mesquinharia já criado. Parece que estar seguro de si, das próprias atitudes, das palavras que serão proferidas (por que alguém seguro de si não conversa, essas pessoas geralmente se pronunciam), parece que todo esse peso de estar seguro de si surge ao fazer uma imagem fora do tempo, congelada num brilho que reflete as crenças da pessoa em questão, naquilo que ela cre ser o melhor. O problema dessa segurança de si é que, ao invés de brindar os outros com uma pessoa séria para conversar, contar e se divertir, ela traz um sujeito muitas vezes opressor e pouco dado à alteridade.

Parece que esse poço de segurança que alguém pode vir a ser torna-se uma barreira na absorção de novas experiências e nessa medida é exatamente um principio egoísta para se relacionar com os outros e com o mundo. Egoísta por que se centra numa imagem, numa certa idéia de autosuficiencia – joga para o espaço a diversidade de coisas que ocorrem no mundo e deixa de aprender com elas.

Assim, voltando ao ponto de partida, se temos um tipo falsamente desinibido que tenta mostrar uma falsa segurança de si, temos possivelmente uma catátrofe humana, pois representa um desejo de ser algo fadado à autodestruição.

Me parece que a segurança de si, a certeza quanto aos próprios desejos e sentimentos é algo muito dificil de alcançar genuinamente. São poucos momentos que temos bem presente à mente o que sentimos e pensamos. Saber disso, parece um bom princípio para se relacionar.

 Entretanto, parece que o sujeito que tem alguma segurança de si melhor representa isso para outra pessoa precisamente quando não está comprometido com isso. Nesse sentido, alguém falsamente desinibido assume um compromisso com a aparência de desinibição e torna esse compromisso muito mais fundamental que a verdade de sua inibição.

A comparação é boa, pois mostra uma forma indireta de obter a verdade. Através de uma aparência, de uma simulação, escapa algo que permite entrever o que de verdadeiro estava tentando ser ocultado.

Sei que o texto é pouco filosófico. Mas, na medida que fala de coisas da vida, pode em certa medida ter alguma importância.

13/09/2010

Trauma Original

O que podemos dizer se diante desse todo primitivo que em nós dorme, chamassemos o seu abandono, e a passagem à multiplicidade, de trauma original.

E, se o trauma original, a perda daquela plenitude, significasse alcançar a linguagem – o seu nascimento - e que a linguagem fosse a tentativa de pronunciar esse todo.

E, se diante do fracasso nessa enorme tarefa de ressituar o todo, o homem tentasse

1.negar, inconscientemente, que deseja esse todo, por que crê que o tem

2.ou negasse, inconscientemente, que teve esse todo, por que não crê que o mereça

3.ou jamais soubesse, nem inconscientemente, que perdeu esse todo

4. Não se conforma em saber, inconscientemente, que sabe não ter esse todo

Que existências supostas em discursos se geram diante disso?

1. Perversão

2. Melancolia

3. Psicose.

4. Neurose.

Só um ensaio de aproximação com questões já conversadas.

09/09/2010

Logo Seremos Divinos

 

O que nasce para nós quando nascemos para o mundo? O que perdemos e o que ganhamos num primeiro ato de consciencia?

Parece que as criaturas conscientes que somos não podem impunemente existir. Um preço eterno sob nossa curta existência parece pesar a cada momento que viramos nossas faces preferindo olhar para algo e deixando de olhar para o outro lado. Eternamente morais, conscientes de qualquer coisa ou de tudo, algo que assombra e apaixona.

Nascer psiquicamente é ver um mundo divido, é aceitar uma divisão que nasce no próprio corpo com relação às demais coisas e que se extende para todos os sentidos. Mesmo a unidade das coisas pode ser discutida, assim como sua compartimentação.

O que é fundamental para nós aqui, nesse curto texto, é que o mundo dividido pela linguagem, aquele na qual ela pode se referenciar para significar é um mundo que nasce da propria fragementação do sujeito. Da divisão deste entre ser um pedaço de carne que reage e da sua vida inteira estar banhada na linguagem. O mundo do psiquismo é aquele capaz de tomar as percepções como objeto de conhecimento.

Que vida é essa que nasce para todo aquele que experimenta a linguagem? É uma vida de busca por restituição, de reunião da unidade perdida. Sentimento de ter de novo o todo que foi roubado. Todo que a morte parece solenemente devolver-nos.

A Arte, a Religão, os Ritos, enfim, a Cultura enquanto práticas do cotidiano é o canto da vida em que o homem ensaia a metáfora de buscar essa restituição. É nesses campos que o homem atua para se renovar e reerguer os pilares da sua subjetividade, daquilo que o faz singular.

Cada vez que o homem enfrenta a possibilidade dessa restituição da unidade primordial que ele imagina um dia ter tido, ele aprende. É como se ele retornasse do momento antes do seu nascimento. O ganho dele ocorre na linguagem e será na fala e no outro que a necessidade de estabelecer o que aprendeu se manifestará. Retornar dessa condição é ter uma abreação, é perceber um limite da linguagem no momento em que ela vai até seu limite e que ao retornar traz consigo o aprendizado.

 

Se alguem subir ao céu, e de lá contemplar a beleza do universo e dos astros, todas essas maravilhas deixá-lo-ão indiferente, enquanto que o embasbacarão de surpresa se tiver de contá-las a alguém. Assim, a natureza do homem se recusa à solidão, e parece sempre procurar um apoio: e não o há mais doce que o coração de um terno amigo.

Cicero, Da Amizade. Cap. 13

Um abraço a todos os amigos que estiveram no marcante fim de semana do 7.9.2010