09/09/2010

Logo Seremos Divinos

 

O que nasce para nós quando nascemos para o mundo? O que perdemos e o que ganhamos num primeiro ato de consciencia?

Parece que as criaturas conscientes que somos não podem impunemente existir. Um preço eterno sob nossa curta existência parece pesar a cada momento que viramos nossas faces preferindo olhar para algo e deixando de olhar para o outro lado. Eternamente morais, conscientes de qualquer coisa ou de tudo, algo que assombra e apaixona.

Nascer psiquicamente é ver um mundo divido, é aceitar uma divisão que nasce no próprio corpo com relação às demais coisas e que se extende para todos os sentidos. Mesmo a unidade das coisas pode ser discutida, assim como sua compartimentação.

O que é fundamental para nós aqui, nesse curto texto, é que o mundo dividido pela linguagem, aquele na qual ela pode se referenciar para significar é um mundo que nasce da propria fragementação do sujeito. Da divisão deste entre ser um pedaço de carne que reage e da sua vida inteira estar banhada na linguagem. O mundo do psiquismo é aquele capaz de tomar as percepções como objeto de conhecimento.

Que vida é essa que nasce para todo aquele que experimenta a linguagem? É uma vida de busca por restituição, de reunião da unidade perdida. Sentimento de ter de novo o todo que foi roubado. Todo que a morte parece solenemente devolver-nos.

A Arte, a Religão, os Ritos, enfim, a Cultura enquanto práticas do cotidiano é o canto da vida em que o homem ensaia a metáfora de buscar essa restituição. É nesses campos que o homem atua para se renovar e reerguer os pilares da sua subjetividade, daquilo que o faz singular.

Cada vez que o homem enfrenta a possibilidade dessa restituição da unidade primordial que ele imagina um dia ter tido, ele aprende. É como se ele retornasse do momento antes do seu nascimento. O ganho dele ocorre na linguagem e será na fala e no outro que a necessidade de estabelecer o que aprendeu se manifestará. Retornar dessa condição é ter uma abreação, é perceber um limite da linguagem no momento em que ela vai até seu limite e que ao retornar traz consigo o aprendizado.

 

Se alguem subir ao céu, e de lá contemplar a beleza do universo e dos astros, todas essas maravilhas deixá-lo-ão indiferente, enquanto que o embasbacarão de surpresa se tiver de contá-las a alguém. Assim, a natureza do homem se recusa à solidão, e parece sempre procurar um apoio: e não o há mais doce que o coração de um terno amigo.

Cicero, Da Amizade. Cap. 13

Um abraço a todos os amigos que estiveram no marcante fim de semana do 7.9.2010

2 commentaires:

  1. É um privilégio passar alguns dias em companhia tão boa, e em ambiente tão favorável... coisa boa demais.
    Fiquei pensando assim desde que cheguei...

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  2. Foi incrível. Vocês são demais.

    Não podemos esperar muito para nos encontrarmos de novo! Temos que explorar as demais casas do Fernandito. Para onde iremos agora? Sítio? Chile? :)

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