28/10/2010

História

Tomo rapidamente uma pequena tirinha do Calvin & Hobbes para falar de algo que é certamente complicado quando referido a mim.

Há ordem de eventos nas nossas vidas? Podemos dizer que alguma essencia individual se realizaria se analisássemos nossas ações e vissemos que elas tendiam para a realização de alguém?

Confesso com um pouco de vergonha na cara que buscava isso quando entrei para o curso de história. Realizar alguma compreensão de “eu” entendo a história objetiva. Nisso que ocorreu comigo há um problema real e sua resolução pode vir pode ser tanto a negação dessa relação de emergência de um sujeito na relação com sua história, como pode ser extremamente verdadeiro e importante, pois na dependência disso muitos pescoços podem jamais sentir o fio frio da navalha.

Uma vida não faz sentido somente pelo encadeamento de causas e efeitos e se essas se encadeiam dentro de uma série com um propósito. Como discutia com um amigo na semana passada, parece que há dois usos do termo fazer sentido. O primeiro é significar. Algo tem significado se gera compreensão, mas qualquer próposito de vida que apareça sob a forma de oferta parece fazer sentido.

Pense no exemplo: “Fazer o bem para crianças com fome”. É um proposito, bonito até. Contudo, não me parece que qualquer pessoa esteja em condições de abraçar esse propósito. Eis que surge um outro uso do termo na minha conversa: o sentido existencial.

O termo não é invenção minha, mas parece que essa distinção precisa passar a ser usada, uma vez que muitas coisas fazem sentido, mas poucas fazem sentido existencial. Abraçar um sentido existencial é algo mais forte, algo que parece nos indicar que pessoas teriam uma espécie de causa final em poder de si e aplicável à si mesmas. Elas tem livremente a possibilidade de dar sentido às suas vidas, mas esse sentido não é qualquer um, mas um que ela é seja capaz de abraçar. Se não houvesse algo parecido, qualquer pessoa poderia muito facilmente, por razões utilitárias encaixar-se em qualquer sentido existêncial que lhe estivesse ao alcance imediato.

Ainda que pareça à primeira vista sem pé nem cabeça o que escrevo aqui, queria fazer essa distinção. Pode ajudar alguém a pensar o que faz de sua vida, como me ajuda, e permitir pensar o que essa pessoa fará de sua história.

25/10/2010

Como um dínamo... III

Segue o poema... tem varias coisas que estão bem toscas... mas deram tão errado que é mais fácil escrever de novo do que tentar arrumar. vai assim mesmo...

parte I

parte II


XI.

Uma vaca mugiu!

uma estrela morreu enquanto o vento

que cantava uma melodia - calma e quase vulgar –

adormeceu;

Já eu, vou mendigando pelos descaminhos da vida;

a deriva em abstrações, (abstraindo as derivações)

Queimo a ilusão como combustível; (explodindo as limitações)

Tiro-lhe as juntas que sustentam e unem tal farsa idealista. (arriscando novas ordenações)

Queimo-a até as cinzas...

e num instante eternidade

Evidencio e contemplo a realidade;

desperto com sua beleza e

Ouço quando me diz:


- Agora! Acorda e corta a corda -,

Vem viver no canto inverso

de tal absurda realidade;

perca-se fora do tempo,

na esquina-encanto...

eternidade.


XII.

Deixo-me perder até voltar,

No que percebo: devo enfrentar meus medos, (para assim, domá-los neles mesmos).

[?](de forma absoluta),

desejo na medida, porém vivo no limite

Se alguém é o melhor que pode ser enquanto for, esse alguém escolhe o melhor nas contingências.[?] .


digo que devo fazer o melhor que posso de quem sou,

Assim, vivo para ser de mim o melhor que sou.

Meu intento não é apenas descobrir o limite das minhas potencialidades,

Mas mais... Viso escolher bem quem ser

na vastidão ilimitada das possibilidades.

Viver a excelência do meu ser

no ato de acontecer


XIII.

Alguém disse que quem se define se limita.

Nesses termos, defino-me na ilimitude,

Vivo para transcender o limite da abstração

na ilimitada vastidão do ser. Significo

e assim vou inteligindo minha definição.

Dou a mim o meu sentido,

sentindo a infinita ilimitação.


XIV.

Agora, a poesia é outra coisa,

desescreve os sentidos ordenadores,

desutiliza a linguagem racional.

Subverte a fala.


e sente o poder da palavra,

Sai da razão e vem na profundeza,

Ouve o som da realeza.

No canto desta realidade.


XV.

Mas nem por isso perco-me no trivial da generalidade,]

Aceito a limitação da distinção.

Mas que ela venha de minha deliberação,

Que eu escolha a melhor de minhas possibilidades.


Talvez nos limitemos pelo dever.

De não poder contrariar a distinção;

Não quero fazer de minha distinção um dever,

Mas em transcender o poder de minhas capacidades.

Quero ir além...

Mas não como algo a findar meu ser,

Quero me completar pelo processo.

Expressar meus desejos e ser completo.


Vasto meu ser,

Infinita ilimitação.

21/10/2010

Como um dínamo... II

Segue o poema... [esclarecimento: eu estava no auge da crise causada pela ética do tio Aris. o IV e o V tbm são desse mesmo dia; o VII é mais antigo;].. tem bastante coisa tosca que eu nunca me dei por satisfeito, mas faz parte.. hehehe


VI.

É quando exijo o máximo de minha disposição,

[Donde fibro meu caráter,

Desfaço-me do nó da ilusão.

Dando o máximo de minha disposição,]

Que me torno virtuoso em minha função.


Escrevo, escrevo, escrevo...


Mas como saber que estou fazendo o melhor que eu posso?

É comum sentir uma forte insegurança,

não raro, o medo toma conta por completo meu pensamento.

Fico preso ao nada em si


VII.

- Sou o reflexo do vazio, infinitizei-me na nulificação...

Destruí a singularidade pela generalização,

cancelei minha identidade, abri mão de qualquer traço de distinção,

perdi-me no vazio de minhas abstrações.

De lá não voltei...

Fui capturado pelo nada em “si mesmo”,

Que não me deixou deixar pegadas pelo espaço ou rastros pelo tempo;


VIII.

Tive em mim tudo para ser o melhor que pude,

Tanto não me fui que me deixei esquecer.

Perdi o melhor de mim, pois não aconteci de me ser.

Quis por muito acreditar que não fui porque não pude,

Hoje vejo que não pude ser porque não quis.


IX

.Caí no próprio conto, logrado,

Tão cedo me deixei derrotar pelo medo,

Fui engolido pelo não-ser, o vazio.

Neguei-me agindo na imperfeição


E de lá não voltei...


Preso a subjetividades falhas,

Que me fugiram do meu caráter,

Deixei de ser o melhor que pude,

Mas não só, fui além e tornei-me do que pude o pior ser,

Hoje vejo a imagem no espelho,

Mas não reconheço o reflexo que me aparece.


X.

Hesito como alguém que tem algo a falar,

mas não tem certeza de como se expressar.

20/10/2010

Silêncio

(Esse eu vou deixar aqui.)




Talvez devesse silenciar. Mas, como o Fernandito postou em um comentário: "Publish or Perish". E é verdade. Publish or Perish. Então, silencio depois.

Eu gosto de ler vocês. Acho que nunca escrevi isso, ou mesmo disse. Então, antes que apodreça, melhor dizer. Gostei muito do poema do Cássio. Gostei do texto também. Se não andasse tão cansado discutiria mais ardentemente esses temas que me fascinam. Gosto quando o Fernandito fala de psicanálise mesmo se, talvez, dê a impressão do contrário. Os posts do Fernando são sempre interessantes porque fazem links nada óbvios e isso reflete a particularidade do seu pensamento, algo cada vez mais raro de se ver nos dias de hoje. Gosto também dos comentários, como a Isis que sempre adiciona algo, tocando no ponto chave das questões. Sempre pensei que seria bom se mais gente participasse do blog. Sabe, acho que a filosofia é espaço para romper silêncios (achava isso já mesmo antes de 2009) . O motivo principal dessa caracterização é, no meu entender, esse: ela é difícil demais para ser aprendida sozinha. Muito mais difícil que física teórica, ela envolve conceitos necessariamente vagos, ambíguos e nebulosos. E quando o problema está nos conceitos, por mais lógico que sejas, por mais abstrato que teu pensamento se torne, simplesmente não dá para aprender tudo sozinho. Em primeiro lugar, tens que "ouvir" (e aqui também vale "ler") as próprias idéias. Mas, não é só isso: não dá para entender todos os problemas com as próprias idéias quanto ouvi-las é somente ouvir o eco delas, sem nenhuma reverberação provocada por uma fonte distinta, independente, delas mesmas. Ver o que condiciona as próprias idéias é abstraí-las por completo e isso é difícil, para não dizer impossível, de se fazer de dentro delas. Por isso, fazer filosofia é, também e necessariamente, conversar sobre filosofia.

Mas, sim, entendo o risco que isso implica quando o conversar se torna um materializar, quando este ato se "coisifica" através de uma publicação. No meu entender, não é coincidência que muitos grandes professores, ou mesmo grandes filósofos, ao menos assim considerados, escreveram tão pouco, publicaram tão pouco. Publicar é, também, dar a cara à tapa e arriscar a má compreensão. Má compreensão do conteúdo, principalmente. Mas até mesmo da índole do autor, se ele for um zé ninguém. Sim, é verdade: isso é algo já bem conhecido e discutido. Mas nos nossos tempos há um agravante do risco. Publicar um livro exige, normalmente, tamanha dedicação que só a tarefa cumprida já é prova de uma certa capacidade do autor (eu sei, há exceções, mas deixemos elas de lado). Em um blog a coisa não funciona assim. Em um blog qualquer imbecil publica qualquer merda entre uma cagada e outra. O que pode ocorrer? O leitor pode ler um mero post como se ele contivesse pretensão de "obra". Sendo que não é e nem nunca foi pensado como uma "obra", mas só um post. É só um texto. Um texto que certamente ficaria em uma gaveta, ou seria guardado em uma pasta velha, até ir para o lixo, se não fossem os blogs e a facilidade de se publicar nos dias de hoje.

Exemplifico. Se aqui tentei publicar textos de fenomenologia, não era com outra intenção além de provocar uma discussão. Se aqui puxei temas de consciência era só para conversar sobre o meu trabalho. Se aqui coloquei algumas notas de aula sobre os cursos que estou fazendo, não era para mais nada do que provocar, também sobre este assunto, a discussão, receber críticas, aprender mais. É este conversar em solidão, como trata o post do Fernando no dia de hoje em seu blog pessoal (bom post por sinal!). Pois, se aprender filosofia é falar de filosofia, então o blog poderia ser mais uma ferramenta para aprendermos melhor. Nunca tive nenhuma pretensão de auto-promoção (como se isso fosse possível!!!) com esses textos. Da mesma forma, perguntas em aula, para mim, são só perguntas em aula. São só manifestações sinceras de se estar perdido e precisando de ajuda. Não tenho outra intenção estranha e injustificada (para não dizer absurda), além dessas intenções legítimas ao perguntar e não suponho que alguém as tenha quando procede de forma semelhante. Buscar o máximo do professor é, apenas, reconhecer a importância dele e a própria limitação. Aprender filosofia é falar de filosofia, é, também, perguntar.

Pois bem. Por que tudo isso? É que eu surpreendi a mim mesmo por não ter considerado corretamente a possibilidade das pessoas pensarem outras coisas ao verem notas de aula em um blog, ou testemunharem perguntas em uma sala de aula. E isso aconteceu de novo (tinha um blog bem antigo que morreu por esse motivo). A obviedade da intenção por trás é algo completamente subjetivo meu, e, é claro, não é, de nenhuma maneira, uma "forma da sensibilidade" ou do "entendimento". Ou seja, não é condição para representar porra nenhuma. Por isso, aqueles que representaram diferentemente têm total direito de fazê-lo (por mais que deles eu discorde). Tudo deveria funcionar assim: eu penso antes, considero todas as possibilidades, concluo que não me importo com elas e então publico. Qual a prova que esse encadeamento não funcionou? Simples: eu publiquei mas, hoje, vejo-me afetado por algumas dessas tais possibilidades terem se tornado realidades. Logo, ou não as considerei, ou considerei-as de maneira incompleta. Ou seja: dei mancada.

E daí? Daí nada. Obviamente, como aprendo muito perguntando em aula (bom, depende do professor, é claro), não vou deixar de exercer esse direito meu somente devido a algumas representações desagradáveis esparsas que não correspondem à realidade. Mas essa decisão é uma decisão baseada em uma análise de risco-benefício. O problema é que postagens em blogs possuem um grau de retorno bem menos óbvio. E aí a balança de fato pende para o lado do risco.

Esse post é só isso: uma tentativa de colocar tudo para fora e, assim, tentar evitar o silêncio futuro.

19/10/2010

Como um dínamo... I

Bom, vou postar alguns versos incompletos. Fiquei um tempo pensando em como eu poderia transformá-los no que eu essencialmente estava pensando ou sentindo ao escrevê-los, porém, quanto mais o tempo passa mais eu me esqueço do que passava naqueles dias. Espero poder voltar a lembrar algum dia...[ps. os 2 primeiros vêm da conversa ontem, mas ainda não consegui chegar no foco do problema]

sigo postando mais durante a semana. A primeira parte vai continuar parecendo choradeira, acho que na segunda vai mudar um pouco...


I.

Não posso crer já ter perdido.

Pois, se fosse o caso, não teria por que continuar.

Ora, mas sei que sigo...

Mesmo sem bem saber para onde,

Não cesso de caminhar.


E sobre o futuro?

Sinceramente não sei.

Como poderia saber o que vai ser?

Eu que nem bem sei o que é.

Mas, a despeito dos limites da minha ignorância,

Sou livre para [saber?] pensar como poderia ser.


Não quero falar na falta de iniciativa, tampouco no esvaziamento das relações.

Não quero lembrar-me do deserto pessoal ou na míngua dos sentidos.

Seria triste perder tempo pensando na padronização das particularidades.

Portanto, não.


Prefiro falar de como poderia ser [de como as coisas poderiam dar certo].


II.

Não nego a nobreza. Tampouco a esperança...

Viso o objetivo, como a seta que busca o alvo,

Porém, sem bem saber qual seja,

Vou atrás do objetivo certo [seja ele qual for].


[Imagino que no momento o caso é a busca de algo ainda incerto e fugaz,

Vou atrás do meu destino como uma flama,

Que incendeia o espírito e revigora a alma.

Mesmo sem bem saber o que buscar].


III.

Sou perito em fugir da vida,

Alimento-me nas sombras;

Da felicidade e amor me esquivo,

Da inércia sou o mestre...


Contenho em mim todos os contrários à vida,

Sou o instrumento do fim

A corda do enforcado,

A arma do suicida.


Falta capacidade,

Talento nunca existiu,

Inerte realidade


...Nenhum sonho permitiu;


Sem reflexo no espelho

O relógio sem ponteiros.

Palavras falsas, [sem vida]; morte aos significados.


IV.

Preciso desfazer a impressão de que sou incapaz.

[Não há valor na farsa]

Ser incapaz é aceitar e temer as limitações.

[preciso abrir mão da casca]


Talvez seja um mesmo preguiçoso,

Lamentando a própria limitação,

Sabendo que posso ser o que não sou,

Mas: - acomodação,


Porque me falta motivação?


[Falho-me por não-ser meu ser,

Assim, não sendo

, perco-me esquecido ao contrário

Deixando de acontecer].


Talvez seja o caso de que de não me sei

E nisso... Delimito-me na ignorância do meu ser

Não sabendo quem posso ou não posso ser,

Frustro-me por não saber,


Algo me vem à mente: - o que importa?

Não há nada a perder

Pois, se for esse o caso


Nunca estive de posse de algo [para poder deixar de ter];

Nunca soube quê algo sou [para poder deixar de ser].


Ora, se sempre fui o que não soube,

o que podia deixar de ser que soubesse?


Mesmo não sabendo, garanto...

Apreendo... [Por algo indemonstrável]

O que sinto;

Sentindo a razão intuir sentidos.


V.

Faço filosofia para transcender o que posso pensar,

para ir além dos meus limites abstrativos,

- vejo-a como um estudo dos conceitos

O filósofo é um agente definidor,

que ordena os significados e suas infinitas relações;

no preço do abismo

limiar entre [ser e não-ser] - .


Intelijo no abstrato em si da realidade,

Além do confim, no limite da finalidade.

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