Em algum momento da minha ainda curta trajetória dentro da universidade fui convocado a pensar o sentido da história. Muitos colegas e muitas pessoas que não se dedicam ao estudo sistemático da história fogem ao enfrentar com esse problema.
Uma das coisas mais presentes na história recente da humanidade é definitivamente a presença do dinheiro nas trocas. O dinheiro, todos sabem bem, fascina e talvez o seu sucesso sempre tenha caminhado de mãos dadas com a sua fragilidade que, calada, sempre optou por se pronunciar quando mais os homens se tornavam cegos.
É difícil avaliar a participação do dinheiro na nossa comunidade, o que cada pessoa pensa a seu respeito, contudo o seu funcionamento pode revelar alguma característica que o torna um instrumento de trocas eficaz.
Ora, como disse Mr.A no post Thinking about Darwin a sociedade americana se sustenta sobre um vazio. Se o dinheiro coloca preço à tudo dentro daquela sociedade e se o dinheiro não tem um valor em si, não há sustentação real para aquela sociedade.
Para seguir o raciocínio, vale pensar o dinheiro como um símbolo que significa o valor de qualquer coisa, porém é uma espécie de simbolo que tem existência material e que pode ser trocados somente pelo que vale em potência, que não vale o que "de fato" vale. Alias, poderiamos dizer que o dinheiro não vale nada, ele é o intermediário das coisas que realmente valem por que tem valor de uso. O dinheiro parece ser o eixo através do qual todas as coisas que podem ser negociadas são reenviadas e que encontram naquele simbolo materializado um referêncial exterior ao próprio valor real que as coisas tem.
O que me parece não ser trivial nisso tudo é que sustentar todo o mundo de trocas em torno desse vazio que o dinheiro representa é um retrato muito humano de como símbolos podem chegar a significar quase nada. Isso aproxima o milionário, que não dá mais valor ao dinheiro, ao mendigo voluntário, que também não toma o dinheiro como solução para sua vida. São dois extremos que desistiram desse vazio exterior ao valor real das coisas.
O que deixo como questão futura seria o seguinte: Não seria necessário ao mundo das trocas, simbólicas e materiais, que algo fosse deixado de fora do próprio sistema e que tenha uma valor exclusivo relativo às trocas? Isso não dá uma liberdade maior para o sujeito ir em busca daquilo que ele quer? Como não tornar essa liberdade adquirida pelo sujeito em tirania dos meios que ele mesmo criou para o exercício da sua liberdade?
Abração
por Fernandito
Fernando, antes dos meus comentários sobre o teu post, tenho uma pergunta sobre tuas questões.
RépondreSupprimer"...que tenha uma valor exclusivo relativo às trocas?"
Não sei se entendi a que te referes...
abraço!
O que quero dizer com isso é o seguinte:
RépondreSupprimerSe o dinheiro é uma matéria que visa ser o MEIO pelo qual as trocas se estabelecem;
e se ele dever ser entendido não como papel sem valor, mas pela convenção de que ele vale pela idéia e não pelo seu preço de fabricação ou qualquer valor que lhe for intrinseco.
Se essas duas condições devem ser necessariamente satisfeitas para que haja utilização do dinheiro, não deve haver uma terceira condição necessária que seria garantir a exclusividade do dinheiro valendo enquanto dinheiro e jamais enquanto papel (isso quero dizer com exclusivo relativo às trocas)?
O problema maior disso é que em momentos de crise aguda, não há convenção que se sustente a ponto de me convencer que um papel vale mais que um pedaço de terra.
(É nisso que queria chegar. Na fragilidade da convenção.)
Agora ficou mais claro? I hope so.
Abrazón compadre!
Sim, entendi. E concordo plenamente. De fato o dólar é, em teoria, lastreado em reservas que, em última análise, referem-se a grãos, petróleo e ouro (assim que se mede o valor relativo de moedas, em última análise). Entretanto duas coisas acontecem na economia global, uma delas de maneira muito mais dramática particularmente na sociedade americana:
RépondreSupprimerPrimeiro, a alavancagem financeira: sobre uma quantidade de bem real alavanca-se uma grande quantidade de dívidas em cascata, fazendo com que (falando grosseiramente) o valor do dinheiro seja super-estimado.
Segundo, e este é o ponto que me refiro em meu post, o dólar nos EUA é usado para medir tudo na vida pessoal das pessoas, não só a quantidade de ouro, comida, ou bens. Mede o grau de felicidade, o que é belo e o que não é, o que é bom e o que não é, o que é justo e o que não é, inclusive o que deve ser democrático e o que não deve. Dessa forma, os valores da sociedade (não os bens) acabam lastreados em dólar e, portanto, no vazio: pq não há nada material, nem mesmo ouro ou comida, que possa sustentar totalmente um valor estético ou ético.
Uma sociedade assim deveria ruir, mas, para o meu espanto, não o faz. E a explicação me parece estar relacionada com o verdadeiro alicerce por trás de todos esses valores: o homem como animal de competição, vivendo em um mundo de seleção natural. Darwin: só lembrava do velho Darwin ao ver a cara de desprezo do garçom americano, depois de receber elogios ao seu trabalho, mas acompanhados de uma gorjeta um tanto humilde.