Talvez devesse silenciar. Mas, como o Fernandito postou em um comentário: "Publish or Perish". E é verdade. Publish or Perish. Então, silencio depois.
Eu gosto de ler vocês. Acho que nunca escrevi isso, ou mesmo disse. Então, antes que apodreça, melhor dizer. Gostei muito do poema do Cássio. Gostei do texto também. Se não andasse tão cansado discutiria mais ardentemente esses temas que me fascinam. Gosto quando o Fernandito fala de psicanálise mesmo se, talvez, dê a impressão do contrário. Os posts do Fernando são sempre interessantes porque fazem links nada óbvios e isso reflete a particularidade do seu pensamento, algo cada vez mais raro de se ver nos dias de hoje. Gosto também dos comentários, como a Isis que sempre adiciona algo, tocando no ponto chave das questões. Sempre pensei que seria bom se mais gente participasse do blog. Sabe, acho que a filosofia é espaço para romper silêncios (achava isso já mesmo antes de 2009) . O motivo principal dessa caracterização é, no meu entender, esse: ela é difícil demais para ser aprendida sozinha. Muito mais difícil que física teórica, ela envolve conceitos necessariamente vagos, ambíguos e nebulosos. E quando o problema está nos conceitos, por mais lógico que sejas, por mais abstrato que teu pensamento se torne, simplesmente não dá para aprender tudo sozinho. Em primeiro lugar, tens que "ouvir" (e aqui também vale "ler") as próprias idéias. Mas, não é só isso: não dá para entender todos os problemas com as próprias idéias quanto ouvi-las é somente ouvir o eco delas, sem nenhuma reverberação provocada por uma fonte distinta, independente, delas mesmas. Ver o que condiciona as próprias idéias é abstraí-las por completo e isso é difícil, para não dizer impossível, de se fazer de dentro delas. Por isso, fazer filosofia é, também e necessariamente, conversar sobre filosofia.
Mas, sim, entendo o risco que isso implica quando o conversar se torna um materializar, quando este ato se "coisifica" através de uma publicação. No meu entender, não é coincidência que muitos grandes professores, ou mesmo grandes filósofos, ao menos assim considerados, escreveram tão pouco, publicaram tão pouco. Publicar é, também, dar a cara à tapa e arriscar a má compreensão. Má compreensão do conteúdo, principalmente. Mas até mesmo da índole do autor, se ele for um zé ninguém. Sim, é verdade: isso é algo já bem conhecido e discutido. Mas nos nossos tempos há um agravante do risco. Publicar um livro exige, normalmente, tamanha dedicação que só a tarefa cumprida já é prova de uma certa capacidade do autor (eu sei, há exceções, mas deixemos elas de lado). Em um blog a coisa não funciona assim. Em um blog qualquer imbecil publica qualquer merda entre uma cagada e outra. O que pode ocorrer? O leitor pode ler um mero post como se ele contivesse pretensão de "obra". Sendo que não é e nem nunca foi pensado como uma "obra", mas só um post. É só um texto. Um texto que certamente ficaria em uma gaveta, ou seria guardado em uma pasta velha, até ir para o lixo, se não fossem os blogs e a facilidade de se publicar nos dias de hoje.
Exemplifico. Se aqui tentei publicar textos de fenomenologia, não era com outra intenção além de provocar uma discussão. Se aqui puxei temas de consciência era só para conversar sobre o meu trabalho. Se aqui coloquei algumas notas de aula sobre os cursos que estou fazendo, não era para mais nada do que provocar, também sobre este assunto, a discussão, receber críticas, aprender mais. É este conversar em solidão, como trata o post do Fernando no dia de hoje em seu blog pessoal (bom post por sinal!). Pois, se aprender filosofia é falar de filosofia, então o blog poderia ser mais uma ferramenta para aprendermos melhor. Nunca tive nenhuma pretensão de auto-promoção (como se isso fosse possível!!!) com esses textos. Da mesma forma, perguntas em aula, para mim, são só perguntas em aula. São só manifestações sinceras de se estar perdido e precisando de ajuda. Não tenho outra intenção estranha e injustificada (para não dizer absurda), além dessas intenções legítimas ao perguntar e não suponho que alguém as tenha quando procede de forma semelhante. Buscar o máximo do professor é, apenas, reconhecer a importância dele e a própria limitação. Aprender filosofia é falar de filosofia, é, também, perguntar.
Pois bem. Por que tudo isso? É que eu surpreendi a mim mesmo por não ter considerado corretamente a possibilidade das pessoas pensarem outras coisas ao verem notas de aula em um blog, ou testemunharem perguntas em uma sala de aula. E isso aconteceu de novo (tinha um blog bem antigo que morreu por esse motivo). A obviedade da intenção por trás é algo completamente subjetivo meu, e, é claro, não é, de nenhuma maneira, uma "forma da sensibilidade" ou do "entendimento". Ou seja, não é condição para representar porra nenhuma. Por isso, aqueles que representaram diferentemente têm total direito de fazê-lo (por mais que deles eu discorde). Tudo deveria funcionar assim: eu penso antes, considero todas as possibilidades, concluo que não me importo com elas e então publico. Qual a prova que esse encadeamento não funcionou? Simples: eu publiquei mas, hoje, vejo-me afetado por algumas dessas tais possibilidades terem se tornado realidades. Logo, ou não as considerei, ou considerei-as de maneira incompleta. Ou seja: dei mancada.
E daí? Daí nada. Obviamente, como aprendo muito perguntando em aula (bom, depende do professor, é claro), não vou deixar de exercer esse direito meu somente devido a algumas representações desagradáveis esparsas que não correspondem à realidade. Mas essa decisão é uma decisão baseada em uma análise de risco-benefício. O problema é que postagens em blogs possuem um grau de retorno bem menos óbvio. E aí a balança de fato pende para o lado do risco.
Esse post é só isso: uma tentativa de colocar tudo para fora e, assim, tentar evitar o silêncio futuro.
Eu gosto de ler vocês. Acho que nunca escrevi isso, ou mesmo disse. Então, antes que apodreça, melhor dizer. Gostei muito do poema do Cássio. Gostei do texto também. Se não andasse tão cansado discutiria mais ardentemente esses temas que me fascinam. Gosto quando o Fernandito fala de psicanálise mesmo se, talvez, dê a impressão do contrário. Os posts do Fernando são sempre interessantes porque fazem links nada óbvios e isso reflete a particularidade do seu pensamento, algo cada vez mais raro de se ver nos dias de hoje. Gosto também dos comentários, como a Isis que sempre adiciona algo, tocando no ponto chave das questões. Sempre pensei que seria bom se mais gente participasse do blog. Sabe, acho que a filosofia é espaço para romper silêncios (achava isso já mesmo antes de 2009) . O motivo principal dessa caracterização é, no meu entender, esse: ela é difícil demais para ser aprendida sozinha. Muito mais difícil que física teórica, ela envolve conceitos necessariamente vagos, ambíguos e nebulosos. E quando o problema está nos conceitos, por mais lógico que sejas, por mais abstrato que teu pensamento se torne, simplesmente não dá para aprender tudo sozinho. Em primeiro lugar, tens que "ouvir" (e aqui também vale "ler") as próprias idéias. Mas, não é só isso: não dá para entender todos os problemas com as próprias idéias quanto ouvi-las é somente ouvir o eco delas, sem nenhuma reverberação provocada por uma fonte distinta, independente, delas mesmas. Ver o que condiciona as próprias idéias é abstraí-las por completo e isso é difícil, para não dizer impossível, de se fazer de dentro delas. Por isso, fazer filosofia é, também e necessariamente, conversar sobre filosofia.
Mas, sim, entendo o risco que isso implica quando o conversar se torna um materializar, quando este ato se "coisifica" através de uma publicação. No meu entender, não é coincidência que muitos grandes professores, ou mesmo grandes filósofos, ao menos assim considerados, escreveram tão pouco, publicaram tão pouco. Publicar é, também, dar a cara à tapa e arriscar a má compreensão. Má compreensão do conteúdo, principalmente. Mas até mesmo da índole do autor, se ele for um zé ninguém. Sim, é verdade: isso é algo já bem conhecido e discutido. Mas nos nossos tempos há um agravante do risco. Publicar um livro exige, normalmente, tamanha dedicação que só a tarefa cumprida já é prova de uma certa capacidade do autor (eu sei, há exceções, mas deixemos elas de lado). Em um blog a coisa não funciona assim. Em um blog qualquer imbecil publica qualquer merda entre uma cagada e outra. O que pode ocorrer? O leitor pode ler um mero post como se ele contivesse pretensão de "obra". Sendo que não é e nem nunca foi pensado como uma "obra", mas só um post. É só um texto. Um texto que certamente ficaria em uma gaveta, ou seria guardado em uma pasta velha, até ir para o lixo, se não fossem os blogs e a facilidade de se publicar nos dias de hoje.
Exemplifico. Se aqui tentei publicar textos de fenomenologia, não era com outra intenção além de provocar uma discussão. Se aqui puxei temas de consciência era só para conversar sobre o meu trabalho. Se aqui coloquei algumas notas de aula sobre os cursos que estou fazendo, não era para mais nada do que provocar, também sobre este assunto, a discussão, receber críticas, aprender mais. É este conversar em solidão, como trata o post do Fernando no dia de hoje em seu blog pessoal (bom post por sinal!). Pois, se aprender filosofia é falar de filosofia, então o blog poderia ser mais uma ferramenta para aprendermos melhor. Nunca tive nenhuma pretensão de auto-promoção (como se isso fosse possível!!!) com esses textos. Da mesma forma, perguntas em aula, para mim, são só perguntas em aula. São só manifestações sinceras de se estar perdido e precisando de ajuda. Não tenho outra intenção estranha e injustificada (para não dizer absurda), além dessas intenções legítimas ao perguntar e não suponho que alguém as tenha quando procede de forma semelhante. Buscar o máximo do professor é, apenas, reconhecer a importância dele e a própria limitação. Aprender filosofia é falar de filosofia, é, também, perguntar.
Pois bem. Por que tudo isso? É que eu surpreendi a mim mesmo por não ter considerado corretamente a possibilidade das pessoas pensarem outras coisas ao verem notas de aula em um blog, ou testemunharem perguntas em uma sala de aula. E isso aconteceu de novo (tinha um blog bem antigo que morreu por esse motivo). A obviedade da intenção por trás é algo completamente subjetivo meu, e, é claro, não é, de nenhuma maneira, uma "forma da sensibilidade" ou do "entendimento". Ou seja, não é condição para representar porra nenhuma. Por isso, aqueles que representaram diferentemente têm total direito de fazê-lo (por mais que deles eu discorde). Tudo deveria funcionar assim: eu penso antes, considero todas as possibilidades, concluo que não me importo com elas e então publico. Qual a prova que esse encadeamento não funcionou? Simples: eu publiquei mas, hoje, vejo-me afetado por algumas dessas tais possibilidades terem se tornado realidades. Logo, ou não as considerei, ou considerei-as de maneira incompleta. Ou seja: dei mancada.
E daí? Daí nada. Obviamente, como aprendo muito perguntando em aula (bom, depende do professor, é claro), não vou deixar de exercer esse direito meu somente devido a algumas representações desagradáveis esparsas que não correspondem à realidade. Mas essa decisão é uma decisão baseada em uma análise de risco-benefício. O problema é que postagens em blogs possuem um grau de retorno bem menos óbvio. E aí a balança de fato pende para o lado do risco.
Esse post é só isso: uma tentativa de colocar tudo para fora e, assim, tentar evitar o silêncio futuro.