Tomo rapidamente uma pequena tirinha do Calvin & Hobbes para falar de algo que é certamente complicado quando referido a mim.
Há ordem de eventos nas nossas vidas? Podemos dizer que alguma essencia individual se realizaria se analisássemos nossas ações e vissemos que elas tendiam para a realização de alguém?
Confesso com um pouco de vergonha na cara que buscava isso quando entrei para o curso de história. Realizar alguma compreensão de “eu” entendo a história objetiva. Nisso que ocorreu comigo há um problema real e sua resolução pode vir pode ser tanto a negação dessa relação de emergência de um sujeito na relação com sua história, como pode ser extremamente verdadeiro e importante, pois na dependência disso muitos pescoços podem jamais sentir o fio frio da navalha.
Uma vida não faz sentido somente pelo encadeamento de causas e efeitos e se essas se encadeiam dentro de uma série com um propósito. Como discutia com um amigo na semana passada, parece que há dois usos do termo fazer sentido. O primeiro é significar. Algo tem significado se gera compreensão, mas qualquer próposito de vida que apareça sob a forma de oferta parece fazer sentido.
Pense no exemplo: “Fazer o bem para crianças com fome”. É um proposito, bonito até. Contudo, não me parece que qualquer pessoa esteja em condições de abraçar esse propósito. Eis que surge um outro uso do termo na minha conversa: o sentido existencial.
O termo não é invenção minha, mas parece que essa distinção precisa passar a ser usada, uma vez que muitas coisas fazem sentido, mas poucas fazem sentido existencial. Abraçar um sentido existencial é algo mais forte, algo que parece nos indicar que pessoas teriam uma espécie de causa final em poder de si e aplicável à si mesmas. Elas tem livremente a possibilidade de dar sentido às suas vidas, mas esse sentido não é qualquer um, mas um que ela é seja capaz de abraçar. Se não houvesse algo parecido, qualquer pessoa poderia muito facilmente, por razões utilitárias encaixar-se em qualquer sentido existêncial que lhe estivesse ao alcance imediato.
Ainda que pareça à primeira vista sem pé nem cabeça o que escrevo aqui, queria fazer essa distinção. Pode ajudar alguém a pensar o que faz de sua vida, como me ajuda, e permitir pensar o que essa pessoa fará de sua história.
Qualquer resumo desse texto deve ser encontrado no poema 13 do ultimo post.
RépondreSupprimerSe sobrar um tempinho visite !
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A distinção é boa e necessária: dois sentidos de sentido.
RépondreSupprimerMas vejo um problema no segundo sentido de sentido, o sentido existencial. O problema está em supor que a diferença entre os dois sentidos é baseada na correspondência do segundo sentido à causa final.
Se dar sentido existencial é dar uma causa final, então precisamos ainda de um outro sentido para o sentido. Vamos chamar de "sentido da vida", como os filósofos de bar gostam: aquele que é imanente e não transcendente, que está no objeto e não além do objeto.
A história precisa de um sentido final. Concordo. Mas acho que a vida não pode contar só com este sentido. E, por isso, uma vida qualquer será sempre irredutível - sempre transbordará - à mais completa das histórias.
Acho que saquei a tua crítica:
RépondreSupprimerSeria "Qual o seria o sentido de atribuir sentido existencial?"
R: Ora, se há esse sentido anterior ou mesmo se não há, esse nos escapa por sua vez.
Concordo que isso não reduz a existência, mas também não consigo pensar uma existência tão errante a ponto de que não haja uma apreensão de um que é capaz de se contar a própria história.
Ter uma história parece ser condição necessária para que a vida tenha algum sentido, mas não é condição suficiente para dar o sentido completo (se há algum).
de um EU* na segunda linha do segundo parágrafo.
RépondreSupprimer(nunca reviso o que escrevo). shit.
ficou uma sinestesia só a situação... hehe
RépondreSupprimergostei da distinção... concordo que ela é importante e com a crítica do Ad. Creio que deve haver um modo de compatibilizar ambas as idéias em um único conceito. Para chegar a tal, levanto alguns pontos [espero não ter errado muito o alvo. Hehehe].
Sentido na primeira acepção seria o ato mesmo da significação [gênero]. Já no segundo, um dos desdobramentos da palavra "sentido", ou seja, uma espécie de sentido qualificado pela atribuição de significado a existência de um sujeito.
O sentido existencial parece, sob algum aspecto, ter algo da causa final, pois, o sentido existencial do sujeito deve ser algo como - "aquilo que, em última análise, minhas ações tendem". Imagino também que deve haver algo de imanente no sentido existencial, pois, o sentido da vida do sujeito não pode estar inteiramente em algo que lhe é externo.
Poderia ser a soma do “sentido final” [que é externo a mim], i. e., o que eu viso para dar sentido a minha vida; com aquilo que atribuo a mim mesmo enquanto sujeito irredutível.
Acho que eu relacionaria o sentido existencial com o processo... como um constante devir de mim mesmo [não sei se isto faz sentido].